Nascido em 1928, Domiciano Pereira de Souza Dias é um pesquisador brasileiro. Biólogo com ênfase no estudo de insetos sociais, estudou no final dos anos 1940 ao início dos 1950 em Cornell, voltando ao Brasil em 1954, começando sua carreira profissional na USP. Em 1957, Domiciano Dias – já fotógrafo amador a anos – participou de uma expedição ao Xingu coordenada pelo conhecido sertanista Orlando Villas Boas, com a função de coletar sementes de milho nativo, abelhas e orquídeas para estudos acadêmicos. Seu senso estético, a utilização de boas máquinas fotográficas [uma de suas preferidas era uma Leica] e uma experiência já consolidada na revelação e conservação de material fotográfico convergiram para a formação de um belíssimo e importante acervo fotográfico, até o presente inédito. Suas atribuições como professor e pesquisador, primeiramente da USP, em seguida da UnB – onde colaborou na criação do departamento de Zoologia – e, por fim, do IBGE, onde criou um programa de estudos ecológicos, fizeram com que esse acervo fosse esquecido ao longo das últimas décadas. Sua paixão pela fotografia, no entanto, continua: são hoje dezenas as máquinas utilizadas, entre Leicas, Super Ikontas e outros ícones de anos passados.

Apoiado pelo FAC-DF, o projeto Xingu 57 apresenta registros inéditos feitos pelo entomólogo e fotógrafo amador Domiciano Dias. Recuperação, estudo e disponibilização de acervo de imagens inéditas registradas ao longo de uma expedição ao Alto Xingu com Orlando Villas Boas e Domiciano Dias.

Xingu 57: viagem ao Brasil Central

O Museu Nacional da República recebe, entre 18 de março e 22 de maio de 2022, acervo inédito de registros fotográficos de uma expedição ao Alto Xingu realizada em 1957. As imagens são de autoria de Domiciano Pereira de Souza Dias, cientista que, na companhia do sertanista Orlando Villas Bôas, desceu os rios Xingu e Liberdade, acessando o coração da região onde hoje se localiza o Parque Indígena do Xingu, mais importante reserva do gênero no Brasil.

Composta por mais de 100 imagens em preto e branco, e algumas coloridas, além de objetos indígenas e uma extensa bibliografia, a exposição Xingu 57: viagem ao Brasil Central resulta da descoberta pelo pesquisador e curador Oto Reifschneider, neto de Domiciano, de centenas de negativos que jamais haviam sido ampliados. Parcialmente comprometidos pelo tempo, os rolos foram submetidos a cuidadoso processo de restauro, que fez reviver a coleção.

Tal qual uma cápsula do tempo, as fotos trazem à tona um episódio de admirável interesse histórico e humano. São bastidores de um período em que os irmãos Villas Bôas angariavam apoio para criação do Parque Indígena, o que ocorreu em 1961, ao mesmo tempo em que faziam contato com diversos povos, com o intuito de estabelecer os grupos dentro dos limites da futura reserva contida no Estado do Mato Grosso.

Para Domiciano, foi uma experiência marcante: "Havia apenas o silêncio, os rastros dos animais nos barrancos de areia. Os índios. Recebi de presente um banco de duas cabeças, mas acabei não voltando para buscar: restou a foto. Era ainda um território selvagem - você sumia no mapa. Foram também semanas de caça, de travessias por nuvens infernais de borrachudos, semanas na selva."

As fotografias revelam, ainda, o olhar treinado de Domiciano, que alternava, metodicamente, uma câmera Exakta e uma Leica para compor uma espécie de diário visual, com momentos prosaicos e também poéticos, que extrapolam o mero caráter documental. O visitante poderá ver desde detalhes dos trabalhosos deslocamentos rio abaixo até retratos de figuras importantes, como o cacique Bibina, entre outras lideranças, além do próprio Orlando Villas Bôas. Estão retratados personagens, fazeres e aldeias dos Xavante, Mehinako, Kuikuro, Aweti, Txucarramãe, Juruna e Yawalapiti.

“É com alegria que tornamos público esse registro dos povos xinguanos. Ele ajuda a compor um retrato desses povos da floresta, e também do caminho percorrido por aqueles que estiveram a seu lado. Foram dez anos de conversas, estudos e encontros para melhor preparar e apresentar esses registros de meu avô, hoje com 93 anos de idade.”, afirma o curador e pesquisador Oto Reifschneider.

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O chefes Aritana Yawalapiti e Afukaká Kuikuru ajudam a identificar pessoas e lugares retratados.